O editorial publicado pelo Estadão em 29 de julho, na tentativa de minimizar o impacto da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, acabou produzindo um efeito contrário ao pretendido. Ao reagir com ataques à figura de Donald Trump, o jornal revelou, talvez involuntariamente, a profundidade de uma crise que não é apenas comercial ou diplomática — é institucional e, sobretudo, simbólica.
Fato ou Grito: Quando a Retórica Substitui a Análise:
Ao invés de contestar o conteúdo da carta da Casa Branca com dados, argumentos ou contexto diplomático, o Estadão recorreu a adjetivos. Trump foi chamado de amalucado, chantagista e desequilibrado. Essa abordagem emocional e pouco fundamentada fragiliza a própria crítica do jornal e, ao mesmo tempo, escancara a ausência de uma resposta estratégica por parte do governo brasileiro.
A carta é clara: a tarifa poderá ser revista se o processo judicial contra Jair Bolsonaro for encerrado. A informação não foi especulada — foi confirmada. E é aí que reside o centro da crise: o país está sendo confrontado diretamente por uma potência internacional, e a única resposta que emerge, tanto da imprensa quanto do governo, é a negação.
Uma Crise que Não Foi Criada — Foi Percebida:
Há uma diferença fundamental entre fabricar uma crise e reconhecê-la. A carta americana, por mais incômoda que seja, não cria um problema. Ela espelha uma realidade já perceptível nos círculos diplomáticos e financeiros internacionais: o Brasil está atravessando uma fase de instabilidade institucional tão profunda que já compromete sua imagem e sua capacidade de negociação no exterior.
A reação do Estadão revela isso com clareza: há uma tentativa desesperada de preservar uma aparência de normalidade, mesmo quando os fatos a corroem por completo. Ao transformar um movimento diplomático em um delírio ideológico, o jornal deixa de lado a análise e adere à retórica, contribuindo para a confusão que critica.
Silêncio Não é Estratégia:
Outro ponto central exposto no editorial é o silêncio do governo. Não há uma resposta oficial articulada, não há exigências públicas em contrapartida à tarifa. O Brasil, que deveria estar atuando com firmeza para proteger seus interesses comerciais, parece optar pela inação — uma escolha que, no cenário geopolítico atual, equivale a renúncia.
Esse vácuo institucional é perigoso. Quando qualquer crítica externa passa a ser tratada como ataque.
Créditos (Imagem de capa): Imagem: Divulgação/Lnove
Comentários: